REMENDO
(Alexandre Braoios)
Vendo a esposa analisando dezenas de cacos
coloridos sobre a mesa, ele questiona:
–
O que você está fazendo,
Renata?
– Vendo se dá para recuperar
essa tigela que você derrubou de novo - respondeu sem nem levantar os olhos. –
Não quer me ajudar?
–
Você não está achando que vai
conseguir colar tudo de novo, está?
–
Não sei, vou tentar.
–
Boa sorte.
Quatro horas mais tarde, a mulher continua tentando
encontrar os encaixes. O marido aparece novamente na porta da cozinha, vê que
apenas cinco pedaços haviam sido colados:
–
Ainda não desistiu?
Renata apenas nega com a cabeça e continua
concentrada no quebra-cabeça de porcelana.
– Jogue isso fora, nem tinha
tanto valor assim. Podemos comprar outra e você não precisa se desgastar com
isso.
–
Me deixe tentar – respondeu
com a voz um tanto embargada.
–
Turrona. Vou tomar uma
cerveja e volto logo.
Mais algumas horas se passaram e Renata sequer se lembrou comer. Já
no final da tarde, o marido volta com hálito alcoolizado e andar trôpego.
–
Não acredito que você ainda
está perdendo seu tempo com esse monte de porcaria. Olha só, você não chegou
nem à metade. – O tom da voz já denotava irritação.
–
Tem razão, não vou conseguir.
–
Eu te disse. Você nunca me
ouve, acha que pode consertar tudo.
–
Tá certo. – Respirou fundo – Quero
o divórcio.