O Reinado de Nina
(Alexandre Braoios)
Nina acordou de sobressalto,
sem motivo aparente. Nenhum ruído se ouviu, apenas acordou com a respiração
ofegante e transpirando. Revirou-se na cama uma, duas, três vezes. E nada. Arrepiava-se
intermitentemente. Paralisada, não pôde se levantar para acender a luz e a voz
não saiu quando tentou chamar por alguém que pudesse lhe acudir. Buscou com os
olhos, pelas paredes e pelo teto, por sua princesa preferida. O quarto era
decorado com inúmeras borboletas, estrelas, fadas e princesas que brilhavam há
anos e ajudavam a acalmá-la no escuro.
Cobriu-se
totalmente com o lençolzinho rosa, apenas o nariz e olhos para fora, e nele era
possível ver o embrião da primeira espinha. Alguns minutos depois Nina abriu
uma pequena fresta no seu escudo de algodão e viu, uma a uma, suas fadas e
borboletas se apagando lentamente, como que agonizando. Imediatamente colocou a
mão no ventre e gemeu de dor. Contorceu-se como se quisesse aliviar.
O
suor ficou mais abundante. Com os olhos espremidos e os dentes cravados no
lábio inferior tentava alcançar o abajur. Também não conseguiu. Estava sozinha,
paralisada de dor. Deve ter pensado que iria morrer, como suas fadas. Mas a
noite se arrastou, e Nina continuava viva. Com dor, mas viva.
Próximo ao amanhecer, o
sono a venceu.
A
luz natural iluminou o quarto e ela continuava encolhida, mas adormecida. Como
estava atrasada, sua mãe entrou para chamá-la. Suavemente, como de costume, a
mão maternal tirou o cabelo de seu rosto e um suave beijo acordou Nina. A
pequena, agarrou-se ao pescoço da mãe:
– Pensei que tinha morrido.
– Por que minha princesa?
–
Minha
barriga dói muito, mãe.
O abraço se tornou mais
terno.
– Vá tomar um banho e depois vamos procurar um
remédio pra sua dor – disse, ajudando a menina a se levantar. Mas deparou-se
com o lençol manchado, abriu um sorriso: - Acho que está na hora da minha
princesa virar rainha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Adicione seu comentário.